terça-feira, 30 de setembro de 2008

domingo, 24 de agosto de 2008

Pag 16 e 17

Tese da ameaça argumento que o custo da reforma ou mudança proposta é alto demais,pois coloca em perigo outra preciosa realização anterior.
É claro que tais argumento não são propriedade exclusiva dos “reacionários”.Podem ser invocados por qualquer grupo que se oponha ou tenha criticas a alguma nova política,proposta ou recentemente colocada em vigor.Sempre que os conservadores ou reacionários se encontram no poder e propõem e executam seus próprios programas e políticas,são,por sua vez,passiveis de ataques dos chamados liberais ou progressistas com os mesmos argumentos de perversidade,da futilidade e da ameaça.Não obstante,eles são mais típicos dos ataques que os conservadores a políticas progressistas,propostas ou existentes,e seus protagonistas foram pensadores conservadores,tal como será mostrado no Capitulo 2 ao 5.O capitulo 6 trata dos argumentos correspondentes no lado oposto progressista; estão intimamente ligados as teses reacionárias,mas assumem formas muito diferentes.
Os três capítulos seguintes deste livro tratam,cada um,de uma das teses.Antes de mergulhar na perversidade,contudo,seria proveitoso rever brevemente a historia dos termos “reação” e “reacionário”.

NOTA SOBRE O TERMO “REAÇÃO”

O par “ação” e “reação” passou a ser de uso corrente como resultado da terceira lei do movimento ,de Newton,que declara que “a toda ação opõe-se sempre uma reação igual”(5). Assim distintos na então prestigiosa ciência mecânica, os dois conceitos espalharam-se para outros domínios,e foram usados em larga escala na analise da sociedade e da história, no século XVIII. Montesquieu,por exemplo,escreveu: “As partes de um Estados estão ligadas umas as outras como as partes do universo: eternamente unidas por um meio das ações de uns e das reações de outros”(6). Do mesmo modo, a terceira lei de Newton foi especificamente invocada por John Adams para justificar um Parlamento bicameral, no debate sobre a Constituição dos EUA(7).
Inicialmente, não se atribuía, nenhum sentido pejorativo ao termo “reação”.A infusão notavelmente duradoura desse sentido ocorreu durante a Revolução Francesa, em especial após o grande divisor de águas: os eventos do Termidor(8).Já se podia observá-lo em um panfleto da juventude de Benjamin Constat, “Dês réactions politiques” [Reação Políticas], de 1797, com a intenção expressa de denunciar o que o autor percebia como um novo capítulo da Revolução, em que as reações contra os excessos dos jacobinos poderiam,por sua vez,engendrar excessos piores. Esse pensamento por si só pode ter contribuído para o sentido pejorativo que veio a surgir,mas o texto de Constant oferece um indicio a mais. De maneira um tanto surpreendente, a penúltima sentença do panfleto é um hino indisfarçado ao progresso:

Desde que o espírito do homem empreendeu sua marcha [...] não há invasão de bárbaros, nem coalizão de opressores e nem invocação de preconceitos que possam fazê-lo recuar (9).


O espírito do Iluminismo, com sua crena na marcha para a frente da história, havia aparentemente sobrevivido à Revolução, mesmo entre seus críticos, apesar do Terror e de outros percalços. Podia-se deplorar os “excessos” da Revolução, como Constant com certeza fazia, e mesmo assim continuar acreditando tanto no desígnio fundamentalmente progressista da história quanto na Revolução como parte desse desígnio. Essa deve ter sido a atitude contemporânea dominante. De outro modo,seria difícil explicar por que aqueles que “reagiam” à Revolução de forma predominantemente negativa vieram a ser vistos e denunciados como “reacionários” que queriam “fazer o relógio andar para trás”. Aqui, aliás, há outro termo que mostra de que maneira nossa linguagem está sob a influência da crença no progresso: ela implica que o mero desenrolar do tempo traz consigo o melhoramento dos homens, de modo que qualquer volta atrás seria calamitosa.
Do ponto de vista da minha investigação, a implicação negativa dos termos “reação” e “reacionário” é infeliz, pois eu gostaria de usá-los sem injetar constantemente um juízo de valor.
Por essa razão, recorro às vezes a termos alternativos mais neutros,tais como “contra-investida” ou “reativo”, e assim por diante.Na maior parte das vezes,porém, sigo o uso comum,empregando aspas ocasionalmente para indicar que não pretendo escrever de modo vituperativo.